A menor distância entre as pessoas é uma história. Não por acaso, as novelas são o maior sucesso comercial da televisão brasileira, com níveis de audiência que superam até mesmo as partidas de futebol. Atualmente, a sociedade tem se habituado a consumir histórias através de múltiplas plataformas e, por isso, as narrativas estão se tornando transmedia, estão extrapolando os canais para qual foram originalmente pensadas.

Transmedia storytelling é contar histórias através de múltiplas plataformas. Histórias estas que devem, ao mesmo tempo, serem autossuficientes (devem oferecer uma experiência completa aos usuários, independente do canal onde estejam) e devem pertencer a um mesmo universo (precisam estar conectadas, ter um fio condutor que as una de alguma maneira). É importante ressaltar que o fato de uma história estar presente em várias plataformas tecnológicas não necessariamente a torna uma obra de transmedia storytelling. Para isso, a história deve se desdobrar pelos múltiplos canais, deve ser única em cada um deles, deve oferecer uma experiência singular.

Desde a virada do milênio, a sociedade pós-moderna tem fragmentado sua atenção. A televisão que outrora conseguia concentrar 75% de aparelhos ligados, hoje, atrai 60% deles. A televisão no Brasil está perdendo espaço, principalmente, por causa da internet, dos videogames e conteúdo para dispositivos móveis.

Calma, não vamos começar a falar sobre o fim das novelas, a morte da televisão, nada disso… O que se tem hoje é um rearranjo, uma readaptação de modelos de mídia que serviram (muito bem, por sinal) para o século XX. O prazer pelas histórias não desapareceu, mas os hábitos de consumo da informação se modificaram, portanto, as novelas terão de ir para onde o público está. Estes produtos televisivos estão de frente com a ameaça da inadequação e com a oportunidade de se reinventar.

A Rede Globo de Produções afirma estar realizando novelas transmidiáticas. A novela “Insensato Coração” possui um site que disponibiliza as principais cenas de todos os episódios, possui informações sobre os protagonistas, opções de compartilhamento em redes sociais e oferece conteúdos exclusivos sobre os bastidores das gravações. Até aí, nada fora do comum. O pulo do gato foi a criação do blog da personagem Natalie Lamour, de Déborah Secco.

Em seu blog, Natalie conta suas impressões sobre os principais acontecimentos de sua vida. Quando ela participa de um evento – que foi exibido na novela – costuma contar o que achou, do que gostou e o que aconteceu nos momentos antes e depois daquele fato. Se ainda não conhece o blog, clique aqui.

O blog de Natalie é um sinal, ainda tímido, de que a Rede Globo está começando a entender o funcionamento e a necessidade financeira nas narrativas transmidiáticas. O site de Insensato Coração recebe diariamente 800 mil visitantes. Há uma promessa de que o remake de “O Astro”, produção da empresa nos anos 70, invista ainda mais em inovação e transmedia storytelling. Uma análise mais profunda revelaria que o exemplo do blog de Natalie não pode ser considerado uma narrativa transmidiática. Não é auto-suficiente, não oferece uma experiência completa ao usuário. Sem a novela, não faria sentido algum.

No entanto, já há o entendimento de que esse tipo de produção pode ser mais complexo, os personagens podem falar e interagir com os usuários, as histórias podem continuar em outros ambientes que não o televisivo. Já há um respeito pela linguagem da internet, o blog fala com os usuários e não com os telespectadores.

Certamente, o exemplo pode ser entendido como um nível primário, e cheio de esperança, de transmedia storytelling. É um sinal de que, aos poucos, por culpa principalmente da lógica econômica, as produções televisivas terão de se reinventar e se adequar aos novos modelos de consumo dos produtos culturais. As emissoras serão obrigadas a ousar e a abandonar modelos que fizeram sucesso durante muito tempo.

Transmedia storytelling é sobre contar histórias e não sobre reproduzir conteúdos por múltiplos canais.

É preciso que se entenda que a grande questão não é – estar ou não – nos ambientes digitais, mas sim a sublimação das plataformas tecnológicas e o investimento cada vez maior na habilidade de contar histórias, independentemente, dos canais aos quais elas estejam vinculadas.

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