A vida não está fácil para as empresas analógicas. O desafio de tentar entender e incorporar os hábitos digitais das pessoas na sua estrutura é gigante. O comportamento é cada vez mais efêmero e, por isso, tão difícil de estudar, entender e aplicar.
A Rede Globo lançou uma campanha recente que mostra esse descompasso entre o que acontece na web e o que pensem e desejam seus diretores.
Estou falando da campanha Que Brasil você quer para o futuro?, na qual a emissora pede aos seus espectadores que enviem vídeos na horizontal.
Os principais jornalistas e apresentadores da Globo se engajaram na tentativa de conseguir os vídeos na horizontal. Olha só o Bonner.
Como você pode imaginar, a campanha gerou diversos memes nas redes sociais.
Galera não sei se vocês já tão sabendo
Mas a Globo quer que você faca um vídeo falando qual Brasil você quer pro futuro
E assim, tem que ser na horizontal, usando um pau de selfie ou seu braço mesmo
— poxaduduh (@Dudu) 31 de janeiro de 2018
telespectador: a
rede globo: GRAVE UM VIDEO E FALE SOBRE O FUTURO DO BRASIL COM SEU CELULAR NA HORIZONTAL pic.twitter.com/EYWjboC59y
— matheus (@whomath) 29 de janeiro de 2018
Qual o problema de tudo isso?
Hoje, uma das principais tendências de comunicação e produção de conteúdo é a verticalização dos vídeos.
Em 2017, o assunto foi tema do VidCon, o maior evento de vídeos e influenciadores do mundo. Você pode ler um pouco mais nesse link.
Eis que fica evidente o embate entre o mundo pré e pós mobile. O analógico e digital. O velho contra o novo.
A Rede Globo e Bonner pedem que as pessoas deixem de fazer o que estão cada vez mais acostumadas. Tudo isso, é claro, para sustentar o uso do conteúdo na televisão, seu principal produto.
Por um lado, podemos entender a tentativa de integração (o tio que quer participar da festa), por outro, é impossível não notar a falta de conexão da emissora com as novas realidades e comportamentos.
A gente assista à uma tentativa de empacotar o comportamento mobile das pessoas para funcionar dentro do canal de televisão.
A insistência na campanha dentro da campanha “faça vídeos na horizontal”, sugere que a emissora deva estar tendo trabalho ao filtrar os vídeos verticais.
Primeiro o Snapchat e, depois, os Stories do Instagram estão consolidando um novo paradigma de produção de conteúdo, cada vez mais vertical.
O mundo invertido (ou vertical) acaba obrigando as grandes empresas de mídia a repensarem seus formatos.
No segundo semestre de 2016, o Facebook acrescentou a sua plataforma a possibilidade de publicação e compartilhamento de vídeos verticais; até ali, só eram aceitos os quadrados (formato 1:1). Um ano antes, o YouTube já havia lançado melhorias para rodar arquivos verticais em tela cheia (em aparelhos Android).
O Google liberou o formato do Stories dentro de seu projeto AMP (Accelerated Mobile Pages), passando a exibir conteúdo multimídia (imagens, vídeos e animações) de acordo com a pesquisa do usuário.
Google e Facebook estão pensando seriamente essa transição de formato. A Globo ainda tenta convencer as pessoas a gravarem vídeos na horizontal. Boa sorte para o Bonner.